A aprendizagem é, sem dúvidas, a maior razão de uma escola existir. Mas, para além do papel da educação, do ensino curricular e do desenvolvimento de competências, a escola exerce uma função ainda mais primária para crianças em situação de vulnerabilidade social: a garantia de segurança, alimentação e socialização. 

Quando a merenda é o prato principal

De acordo com um levantamento realizado pelo Unicef, com 1.516 adultos, 8% dos respondentes que moram com pessoas menores de 18 anos declararam que crianças e adolescentes do domicílio deixaram de comer por falta de dinheiro para comprar alimentos no contexto da pandemia. Entre aqueles de classes mais baixas, a proporção chegou a 21%. 

No Brasil, cerca de 41 milhões de estudantes recebem merenda escolar e, para muitos desses meninos e meninas, a refeição que se faz na escola é a única ou a principal. No início do período de suspensão das atividades presenciais, a garantia da merenda escolar era incerta. Apenas em abril o Governo Federal aprovou uma resolução permitindo a distribuição desses alimentos diretamente para os estudantes. Ainda assim, 42% das famílias que recebem até um salário mínimo ficaram sem receber o recurso.

Os efeitos do isolamento

Sem o ensino presencial, as crianças também perderam o valioso convívio diário com a comunidade escolar. A falta dessa interação social pode trazer grandes prejuízos para a saúde mental dos estudantes, agravando as vulnerabilidades e o risco de evasão escolar. 

Com o aumento da permanência em casa, as crianças também se tornam mais vulneráveis a situações de violência doméstica e trabalho infantil. O cenário diminui as possibilidades de detectar tais circunstâncias, já que reduz a proximidade do acompanhamento pedagógico. 

Para se ter uma ideia, os dados do Unicef indicam uma intensificação do trabalho infantil, com aumento de 26% entre as famílias entrevistadas em maio, comparadas às entrevistadas em julho. Em um relatório mundial, a organização, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho, alertou que mais 8,9 milhões de crianças e adolescentes correm o risco de ingressar no trabalho infantil no mundo até 2022, como resultado da pandemia de Covid-19.

É certo que o fechamento das escolas teve um impacto significativo na redução dos números da pandemia. Mas o longo tempo de suspensão das atividades presenciais traz danos expressivos. O Brasil é um dos países com maior período de escolas fechadas em todo o mundo, com 53 semanas. Por isso, é essencial que as escolas sejam a maior das prioridades, fechando-as apenas em caráter de exceção. 

Nos territórios que atuam de forma colaborativa, como é o caso dos Arranjos de Desenvolvimento da Educação, a reabertura das escolas pôde ocorrer com maior agilidade na maioria dos municípios, reforçando que a colaboração é uma boa prática que deve ser amplamente disseminada e incentivada em todo país.

Instituto Positivo

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